À esquerda, cérebro de tamanho normal, acima de 33 cm de diâmetro; à direita, cérebro com menos de 33cm, microcéfalo |
Lembro que na minha infância havia, em um sítio
vizinho, uma menina com um dos braços bem curto, que terminava em uma
mãozinha minúscula, que parecia ter sido colocada ali, à semelhança de um
brinco. Mais tarde, na universidade, conheci uma moça que tinha a mesma
característica e só nesse período, vim a saber que se tratava da síndrome da
Talidomida, ou focomelia, malformação de encurtamento ou aproximação dos
membros, causada por um medicamento, a Talidomida, usado pelas mães durante a
gravidez. Também conheço dois rapazes, lá de Paulo Jacinto (AL), que tiveram
paralisia infantil. Lembro que suas mães relatavam não terem sido vacinados e
que, por isso, teriam sido acometidos pela perda de mobilidade nos membros
inferiores.
São situações diferentes, mas que poderiam ter sido evitadas com informação e prevenção. A mãe de uma das
vítimas de paralisia infantil contou a minha mãe que não levara seu filho para
vacinar porque a vacinação ocorrera em dia de colheita, e ela estava atarefada,
cozinhando para os trabalhadores do sítio. A outra disse que seu bebê estava
doente e que fora aconselhada a não vaciná-lo por temer efeitos colaterais. Os
dois nasceram no final dos anos 1960, em tempos de informação tutelada, ainda
mais numa cidadezinha do interior de Alagoas, onde os meios de comunicação mais
acessíveis eram o autofalante da igreja e a PR[1]
Vitória, a rádio do Sr. José Chaves, empresário do ramo alimentício muito
prestativo, que dava avisos e anunciava a chegada de cartas e encomendas, de
segunda à sexta, sempre ao meio-dia.
A informação, sobretudo quando em situações de
interesse público, nunca é excessiva. O último diagnóstico de pólio no Brasil ocorreu
em 1990, mas na última campanha de vacinação aqui em Alagoas, houve duas
prorrogações porque o sistema de saúde não conseguiu atingir a meta no prazo
regular, nem na primeira prorrogação. A poliomielite foi erradicada, mas a criança
só é considerada imunizada após quatro ou seis reforços, que devem ser
administrados sistematicamente nas crianças de zero a menos de 5 anos. E essa
informação precisa circular, fazendo ver, principalmente aos pais e mães mais
jovens, o benefício da vacinação, bem como as consequências de não vacinar seus
filhos.
Agora, em plena era da informação, vem nos assombrar,
como “problema de saúde pública”²[2],
um surto de microcefalia cujas causas
ainda são meramente estimadas, mas os registros suspeitos já chegam à casa dos
milhares em todo o Brasil, com altíssima incidência no Nordeste, sendo
Pernambuco o “campeão” absoluto do lamentável ranking e também, por isso, o
estado que fez ecoar o alarme que pôs em alerta todo o Brasil.
Conforme atualização divulgada no último dia 15 de
dezembro pelo Ministério da Saúde, haviam sido registrados no Brasil, até o dia
12 de dezembro, 2.401 casos suspeitos da doença, com 29 mortes. O MS investiga
outros 2.165 casos e mais uma morte.
Pernambuco teria, segundo a última atualização, 646
casos sob acompanhamento, com 29 confirmados por associação ao zika vírus. O
estado é seguido, até o 9º lugar, de todos os estados nordestinos. Depois, vem
o Rio de Janeiro (12), até chegar ao Mato Grosso do Sul, onde haveria um caso
suspeito. Alagoas aparece no 5º lugar, e os números têm tido atualização
diária, com escala ascendente.
Na última segunda-feira (14), o governo federal
lançou um Protocolo de Atenção à Saúde para Microcefalia. O documento
recomenda, entre outras estratégias, a busca ativa de mulheres em idade fértil
e com suspeita de gravidez, ampliação do acesso a testes rápidos e antecipação
do pré-natal. São orientações aos profissionais de saúde para promover a
identificação precoce da doença e os cuidados especializados da gestante e do
bebê.
É o momento em que a comunicação, sobretudo nas
comunidades mais pobres e mais sujeitas à desinformação, deve ser massificada
porque, uma vez constatada, a microcefalia não tem cura. Nem tratamento,
segundo o portal do MS. “Não há tratamento específico para a microcefalia.
Existem ações de suporte que podem auxiliar no desenvolvimento do bebê e da
criança, e este acompanhamento é preconizado pelo Sistema Único da Saúde (SUS).
Como cada criança desenvolve complicações diferentes – entre elas
respiratórias, neurológicas e motoras –, o acompanhamento por diferentes
especialistas vai depender de suas funções que ficarem comprometidas”.
É esta a resposta do Ministério da Saúde à pergunta
“Qual o tratamento para a microcefalia?”. No portal do órgão [http://portalsaude.saude.gov.br/]
há muita informação sobre o assunto. Há duas abas “Microcefalia e zika vírus –
orientações gerais” e “Dengue, chikungunya e zika – prevenção e combate”, com
informações sobre o que fazer para prevenir que o surto evolua para uma
epidemia de brasileiros com limitações físicas e motoras em consequência da
microcefalia. Que, com informação e ações de prevenção, pode ser evitada.
Compartilhamos tanta coisa da vida privada, da
nossa própria e de outros, assim como comentários
valorativos, às vezes, até degradantes e injuriosos... Por que não compartilhamos, ou compartilhamos menos informação valiosa, importante, capaz de contribuir para a prevenção,
para evitar que haja uma geração marcada por pessoas com limitações físicas e/ou
motoras?
Nas mídias sociais, a informação se propaga mais rapidamente, torna-se mais acessível. Em vez dos tão comuns gracejos falaciosos e detratores, podemos dar nossa contribuição, pela informação, ao esforço pela erradicação do zika vírus e à prevenção do aumento dos casos de bebês com microcefalia. Assim como, pela informação, erradicaram-se a síndrome da Talidomida e a poliomielite, vamos contribuir para a erradicação da microcefalia por associação com o zika vírus.
Pelo último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), havia quatro casos de microcefalia sendo monitorados em Paulo Jacinto, uma cidadezinha do interior de Alagoas, onde todos se conhecem e eu nunca vi ninguém com microcefalia. E onde, em pouco tempo, algumas crianças se tornarão referência de um problema de saúde incurável, porém prevenível.
Nas mídias sociais, a informação se propaga mais rapidamente, torna-se mais acessível. Em vez dos tão comuns gracejos falaciosos e detratores, podemos dar nossa contribuição, pela informação, ao esforço pela erradicação do zika vírus e à prevenção do aumento dos casos de bebês com microcefalia. Assim como, pela informação, erradicaram-se a síndrome da Talidomida e a poliomielite, vamos contribuir para a erradicação da microcefalia por associação com o zika vírus.
Pelo último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), havia quatro casos de microcefalia sendo monitorados em Paulo Jacinto, uma cidadezinha do interior de Alagoas, onde todos se conhecem e eu nunca vi ninguém com microcefalia. E onde, em pouco tempo, algumas crianças se tornarão referência de um problema de saúde incurável, porém prevenível.
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