quarta-feira, 16 de maio de 2018

Denunciar abuso é proteger a infância


Elen Oliveira - Jornalista*

Há 18 anos, o Brasil se mobiliza, no dia 18 de maio, em defesa de meninos e meninas vítimas de abuso sexual. O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi instituído em 17 de maio de 2000 (Lei 9.970) e a data foi escolhida em memória de Araceli Crespo, uma menina capixaba de 8 anos que em 18 de maio de 1973 foi sequestrada, violentada e assassinada. Três acusados como agressores foram denunciados e inocentados pela Justiça.
O relato deste crime se repete ano a ano para chamar a atenção para os sinais de abuso e violência sexual contra crianças e adolescentes e para nos mobilizar a denunciar, sempre que identificarmos indícios de sua ocorrência. Este ano, a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança lançou a campanha nacional Pode ser Abuso – Alguns segredos não devem ser guardados. Tendo como principal peça de difusão a hashtag #PODESERABUSO, a campanha tem como finalidades ajudar a identificar sinais que crianças emitem quando sofrem abusos e incentivar a denúncia de práticas abusivas.
Não é fácil falar sobre esse crime, que além da violência física e psicológica, envolve questões de ordem moral, assédio e ameaça. Em parte significativa dos casos denunciados, o agressor é adulto e tem ascendência sobre a vítima – são pais, padrastos, parentes, vizinhos. Há situações em que o agressor atribui à própria vítima a culpa pela agressão, revitimizando-a, em vez de protegê-la.
Não é fácil para uma criança ferida e ameaçada falar sobre tal tormento. Mas há mecanismos que potencializam a voz das vítimas e que ajudam a falar por elas. A campanha #PODESERABUSO pretende fortalecer essa voz. O abuso causa transtornos, deixa marcas e sinais visíveis. Há mudanças de comportamento perceptíveis aos familiares, colegas, amigos, professores, vizinhos. E há mecanismos de proteção que asseguram, inclusive, a confidencialidade do denunciante.
Disque 100 é a principal ferramenta para denunciar situações de abuso e violência sexual. A ligação é gratuita e por meio dela, qualquer pessoa pode salvar uma criança ou adolescente da violência sexual. “Só em 2015, foram registradas [pelo Disque 100] mais de 18 mil denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes. Isso significa que todos os dias, são feitas cerca de 50 denúncias. No entanto, o número pode ser bem maior, quando considerado que muitos casos permanecem em segredo”, informa a Fundação.
No endereço eletrônico http://www.podeserabuso.org.br/ estão disponíveis todas as informações, material de divulgação da campanha, ferramentas e mecanismos de proteção, sinais emitidos pelas vítimas de abuso e canais de proteção. Todos somos responsáveis pela proteção integral à criança e ao adolescente e devemos exercer essa proteção, mesmo quando não há vínculo familiar.   
Abuso sexual é crime e deve ser denunciado. Se identificar comportamento suspeito, #PODESERABUSO.  Disque 100. A ligação é gratuita, anônima e funcional todos os dias, 24h. Não silenciemos. “Alguns segredos não devem ser guardados”. Denunciar o abuso e a violência sexual é uma das formas de proteção à infância. 
*É Jornalista Amiga da Criança

** Publicado originalmente em http://painelnoticias.com.br/geral/134973/denunciar-abuso-e-proteger-a-infancia

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Protegei-nos dos atos não consentidos


A notícia de mais duas meninas violadas é aterradora. Provoca ímpetos de responder a cada comentário atentatório a sua condição de vítima. A cada um que tenta justificar a conduta de um, dois ou "mais de 30", conforme gravação divulgada na semana passada. A cada um dentre os milhares que viram e compartilharam as imagens de uma menina nua e ensanguentada. A cada um dos que se divertiram (como é possível?) com a situação.
Todos os acima citados, exceto a vítima, todos a violaram. Tanto o que, numa gravação atribuída por sua defesa a uma letra de música (???!!!), informa: "Mais de trinta (...). Entendeu, ou não entendeu?" quanto o outro que, após admitir que "apenas gravou" as imagens, de todas nós  escarneceu, ao chegar sorridente à delegacia. Todos os que "apenas compartilharam" as imagens. Todos a violaram, inclusive a imprensa que chama as meninas vitimadas de "menor", sendo elas que carregam a dor física e psicológica de todas as meninas e mulheres. Todas. 
Essas meninas carregam as dores e o medo de todas nós que ficamos aterrorizadas quando dois meninos da vizinhança nos puxaram pelo cabelo, quando voltávamos da escola. De todas nós que fomos desrespeitadas quando pegamos carona com um colega de trabalho. De todas nós que preferimos atrasar a prestação do apartamento para completar a entrada do carro porque nunca mais nos sentiremos seguras de estar à noite num ponto de ônibus na companhia de um homem desconhecido. De todas nós que sentimos medo de passar por um lugar, a qualquer hora do dia, onde haja um grupo de homens, simplesmente por sermos mulheres. 
Sintam-se violadores e estupradores todos os que estiveram naquela cena, naquele "abatedouro", para usar a palavra usada pelo delegado para descrever a cena do crime. Os que a tocaram e os que assistiram, filmaram, divulgaram. Sintam-se violadores todos os que compartilharam imagens da violação. Sintam-se violadores todos os que se escandalizaram com a foto íntima que uma menina mandou para o namorado mau-caráter que a compartilhou. E toda uma cidade se escandalizou. E compartilhou. E escarneceu. E tripudiou sobre a intimidade que a menina não lhe concedera. Essa menina também é vítima. "Mas não foi ela quem quis mostrar?", perguntam as "vestais" para justificar que não apenas viram, como se escandalizaram e depois passaram adiante. Sim, ela quis se mostrar. Mas apenas a pessoa de sua intimidade. E ele a traiu, tornando pública a intimidade que ela lhe confiara. Traiu sua confiança, violou sua intimidade.  E não. Não. Não. Não foi concedido a mais ninguém ver, escandalizar-se ou compartilhar, a não ser para denunciar a instituição competente a violação inicial. Mas isso ninguém fez, por "não ser da sua conta" agir para ajudar.
Será mesmo necessário contar quantos homens tocaram em uma menina desacordada, exposta nua e ensanguentada aos olhos de quantos queiram ver, para admitir que houve violação? Será mesmo necessário contar quantos estiveram naquela cena horrenda para considerar que houve crime?
Atenção, poder público! Não trate o estupro apenas como caso de polícia. É caso de psicólogo, de advogado defensor dos direitos humanos, de promotoria e de delegacia especializadas. Caso de instituições de proteção psicossocial à vítima, de depoimento especial [http://migre.me/tYoRu ].  
Atenção, todas as pessoas! Protegei as meninas. Protegei as crianças, meninas e mulheres de todos os olhares, palavras e atos não consentidos. 
E aos que contestam a existência de uma cultura do estupro, pensem em quantas vezes ouviram: "Amarrem sua novilha, que o meu boi anda solto".  "Também, com aquela roupa..." "Estava pedindo". "O que fazia, sozinha, àquela hora, naquele lugar?" De forma mais notória, tem aquela do formador de opinião para quem o estupro pode ser "uma caridade". Ou a do político que afirma ser um "presente de Deus" a amiga ser acordada por cinco policiais em diligência. Ou a do parlamentar que considera o estupro um "merecimento".  E tem o humorista que divulga nota, afirmando terem "retirado de contexto" declaração sobre ser "'gênio' o cara que esperou uma gostosa ficar bêbada para transar com ela". Como se houvesse contexto justificável para um comentário desses, todos proferidos naturalmente, alguns escritos e divulgados como coisa relevante, todos repetidos por serem culturalmente aceitos. Ou o comportamento público do delegado inicialmente designado para investigar as denúncias, desde sempre voltado a desqualificar a vítima.
A quem acha inofensivo educar meninos e meninas como potenciais "bois" e "novilhas para o abate", respectivamente, lembre-se que mães, filhas, irmãs, namoradas, esposas são todas mulheres. E do medo que a gente sente. 
Para saber se houve ou não abuso, há apenas uma pergunta a ser respondida: Consentiu? Se a resposta for "NÃO", significa NÃO. 






domingo, 20 de dezembro de 2015

Informação e prevenção



À esquerda, cérebro de tamanho normal, acima de 33 cm de diâmetro; à direita, cérebro com menos de 33cm, microcéfalo



Lembro que na minha infância havia, em um sítio vizinho, uma menina com um dos braços bem curto, que terminava em uma mãozinha minúscula, que parecia ter sido colocada ali, à semelhança de um brinco. Mais tarde, na universidade, conheci uma moça que tinha a mesma característica e só nesse período, vim a saber que se tratava da síndrome da Talidomida, ou focomelia, malformação de encurtamento ou aproximação dos membros, causada por um medicamento, a Talidomida, usado pelas mães durante a gravidez. Também conheço dois rapazes, lá de Paulo Jacinto (AL), que tiveram paralisia infantil. Lembro que suas mães relatavam não terem sido vacinados e que, por isso, teriam sido acometidos pela perda de mobilidade nos membros inferiores. 

São situações diferentes, mas que poderiam ter sido evitadas com informação e prevenção. A mãe de uma das vítimas de paralisia infantil contou a minha mãe que não levara seu filho para vacinar porque a vacinação ocorrera em dia de colheita, e ela estava atarefada, cozinhando para os trabalhadores do sítio. A outra disse que seu bebê estava doente e que fora aconselhada a não vaciná-lo por temer efeitos colaterais. Os dois nasceram no final dos anos 1960, em tempos de informação tutelada, ainda mais numa cidadezinha do interior de Alagoas, onde os meios de comunicação mais acessíveis eram o autofalante da igreja e a PR[1] Vitória, a rádio do Sr. José Chaves, empresário do ramo alimentício muito prestativo, que dava avisos e anunciava a chegada de cartas e encomendas, de segunda à sexta, sempre ao meio-dia.

A informação, sobretudo quando em situações de interesse público, nunca é excessiva. O último diagnóstico de pólio no Brasil ocorreu em 1990, mas na última campanha de vacinação aqui em Alagoas, houve duas prorrogações porque o sistema de saúde não conseguiu atingir a meta no prazo regular, nem na primeira prorrogação. A poliomielite foi erradicada, mas a criança só é considerada imunizada após quatro ou seis reforços, que devem ser administrados sistematicamente nas crianças de zero a menos de 5 anos. E essa informação precisa circular, fazendo ver, principalmente aos pais e mães mais jovens, o benefício da vacinação, bem como as consequências de não vacinar seus filhos. 

Agora, em plena era da informação, vem nos assombrar, como “problema de saúde pública”²[2],  um surto de microcefalia cujas causas ainda são meramente estimadas, mas os registros suspeitos já chegam à casa dos milhares em todo o Brasil, com altíssima incidência no Nordeste, sendo Pernambuco o “campeão” absoluto do lamentável ranking e também, por isso, o estado que fez ecoar o alarme que pôs em alerta todo o Brasil. 

Conforme atualização divulgada no último dia 15 de dezembro pelo Ministério da Saúde, haviam sido registrados no Brasil, até o dia 12 de dezembro, 2.401 casos suspeitos da doença, com 29 mortes. O MS investiga outros 2.165 casos e mais uma morte. 
Pernambuco teria, segundo a última atualização, 646 casos sob acompanhamento, com 29 confirmados por associação ao zika vírus. O estado é seguido, até o 9º lugar, de todos os estados nordestinos. Depois, vem o Rio de Janeiro (12), até chegar ao Mato Grosso do Sul, onde haveria um caso suspeito. Alagoas aparece no 5º lugar, e os números têm tido atualização diária, com escala ascendente.

Na última segunda-feira (14), o governo federal lançou um Protocolo de Atenção à Saúde para Microcefalia. O documento recomenda, entre outras estratégias, a busca ativa de mulheres em idade fértil e com suspeita de gravidez, ampliação do acesso a testes rápidos e antecipação do pré-natal. São orientações aos profissionais de saúde para promover a identificação precoce da doença e os cuidados especializados da gestante e do bebê.

É o momento em que a comunicação, sobretudo nas comunidades mais pobres e mais sujeitas à desinformação, deve ser massificada porque, uma vez constatada, a microcefalia não tem cura. Nem tratamento, segundo o portal do MS. “Não há tratamento específico para a microcefalia. Existem ações de suporte que podem auxiliar no desenvolvimento do bebê e da criança, e este acompanhamento é preconizado pelo Sistema Único da Saúde (SUS). Como cada criança desenvolve complicações diferentes – entre elas respiratórias, neurológicas e motoras –, o acompanhamento por diferentes especialistas vai depender de suas funções que ficarem comprometidas”. 

É esta a resposta do Ministério da Saúde à pergunta “Qual o tratamento para a microcefalia?”. No portal do órgão [http://portalsaude.saude.gov.br/] há muita informação sobre o assunto. Há duas abas “Microcefalia e zika vírus – orientações gerais” e “Dengue, chikungunya e zika – prevenção e combate”, com informações sobre o que fazer para prevenir que o surto evolua para uma epidemia de brasileiros com limitações físicas e motoras em consequência da microcefalia. Que, com informação e ações de prevenção, pode ser evitada. 

Compartilhamos tanta coisa da vida privada, da nossa própria e de outros, assim como comentários valorativos, às vezes, até degradantes e injuriosos... Por que não compartilhamos, ou compartilhamos menos informação valiosa, importante, capaz de contribuir para a prevenção, para evitar que haja uma geração marcada por pessoas com limitações físicas e/ou motoras? 

Nas mídias sociais, a informação se propaga mais rapidamente, torna-se mais acessível. Em vez dos tão comuns gracejos falaciosos e detratores, podemos dar nossa contribuição, pela informação, ao esforço pela erradicação do zika vírus e à prevenção do aumento dos casos de bebês com microcefalia. Assim como, pela informação, erradicaram-se a síndrome da Talidomida e a poliomielite, vamos contribuir para a erradicação da microcefalia por associação com o zika vírus.  


Pelo último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), havia quatro casos de microcefalia sendo monitorados em Paulo Jacinto, uma cidadezinha do interior de Alagoas, onde todos se conhecem e eu nunca vi ninguém com microcefalia. E onde, em pouco tempo, algumas crianças se tornarão referência de um problema de saúde incurável, porém prevenível. 


As informações desse post contam com o valioso suporte dos links







[1] PRS (Personal Radio Service) – Serviço Pessoal de Rádio, in: https://en.wikipedia.org/wiki/Personal_radio_service
[2] http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2006000100018&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

domingo, 9 de agosto de 2015

Pais, sejam Pais






Meu pai morreu em 1976, aos 29 anos, quando eu tinha 5. Meu irmão tinha 7 e minha irmã, apenas 10 meses. Crescemos sem pai e sua ausência nos segue vida afora. Mesmo 40 anos depois, não há compensação que nos livre da saudade ou que sane essa dorzinha que nos acompanha, principalmente quando se aproxima e chega o Dia dos Pais. Mesmo tanto tempo depois, guardo lembranças do quão marcante foi sua passagem por nossas vidas.   

Lembro de afagos, de histórias contadas debaixo da mangueira em frente a nossa casa no Sítio Barro Preto, dos dias festivos de colheita e ensacamento do algodão, dos passeios a cavalo – meu irmão na garupa, abraçado a sua cintura, eu na frente da sela, protegida por seus braços. Aos domingos, quando voltava da feira, descia do cavalo e ficava lá, debaixo da mangueira, esperando um copo d’água servido por mim ou meu irmão, o que conseguisse chegar primeiro. Na sequência, estávamos autorizados a revolver-lhe os bolsos, invariavelmente cheios de balas e guloseimas. Velhos tempos. Belos dias.


Um dia, quando eu tinha uns 4 anos, meu irmão foi incumbido de banhar o cavalo no açude. Não sei se se atribui ao tempo ou à liberdade da vida no campo, mas não havia nada demais em designar uma criança de 6 anos para lavar um cavalo, acompanhado de outra de 4, que fazia figuração. Na ida, a recomendação: “Nada de montar o cavalo molhado”. Ouvimos, mas esquecemos.


Cavalo limpo, molhado e liso, preso apenas a uma corda, pareceu-nos que voltar montados agilizaria a atividade. Habilidosos, subimos e lá íamos bem felizes, quando, numa subidinha antes de casa, deslizamos e caímos debaixo de uma árvore cheia de espinhos, conhecida como mau-vizinho. Pernas lanhadas pelos espinhos, cavalo perdido e todo lambuzado, lá fomos nós chorando, desesperados.


Meu pai nos abordou, disse que avisara para não montarmos e pediu que minha mãe nos limpasse, enquanto corria ao cercado para laçar o cavalo, que precisou de um novo banho. Na volta, aparentando calma, perguntou por que havíamos montado, mas permanecemos mudos e cabisbaixos. “Para aprender a não desobedecer, vão ganhar, cada um, uma palmada”, anunciou, antes da prática, que nos fez chorar pelo resto da tarde.


Foi a única vez em que nos castigou. Enquanto houve tempo, cuidou de nós e nos protegeu. Agricultor, cuidava da própria plantação e do sítio onde morávamos, até o dia em que, de tão seca, a terra parou de produzir. Então, decidiu que emigraríamos para São Paulo, como faziam, àquele tempo, tantas famílias nordestinas. Mamãe licenciou-se do trabalho como professora e lá fomos nós para uma vida completamente nova. Trocamos a contemplação do por-do-sol alaranjado da Serra Grande por finais de tarde à frente da TV e as brincadeiras ao ar livre pela vida de portas fechadas e uns poucos domingos no parque.


Seis meses depois, acordei no meio da noite com a casa cheia de gente. Vi minha mãe chorando, abraçada a uma vizinha. Elas contaram que o papai tinha passado mal e estava no hospital, mas já sabiam que estava morto, vítima de infarto fulminante. 

O dia triste que se seguiu ficou eternizado. Minha tia me vestiu com uma roupa nova – casaco preto e saia azul –, deixou minha irmãzinha na casa da vizinha e me guiou, junto com meu irmão, para um dia longo e triste, vivido entre o choro e o nó na garganta. E enquanto aquele dia passava, fui guardando, numa nuvenzinha, os dias em que íamos pescar, jogar milho para as galinhas, tirar jabuticabas da cor dos meus olhos, como ele gostava de dizer; colher mangas e maracujá-açu ou descansar na rede armada no alpendre, olhando as nuvens, enquanto ele prendia uma orquídea roxa ao troco do ipê amarelo que sombreava nossas tardes.


A vida seguiu, Mamãe se fez pai e quando fiz 30 anos, a vida me fez pai também. “Pãe”, como diz minha Bia. E as lições de cuidado, carinho e afeto, responsabilidade e parceria ministradas por meu pai e minha mãe, que com firmeza e determinação, assumiu as rédeas, depois que ele partiu, continuam a me guiar. Ah! Sou totalmente contra a palmada ou qualquer outro tipo de castigo físico em crianças. Mas não sinto nenhuma mágoa por essa história, ela é mais uma do meu pequeno baú de lembranças do meu pai. Que talvez não fosse perfeito, em sua pouca idade, mas sabia ser Pai. E 40 anos depois, ainda o é. Como é minha mãe e procuro ser, à sombra do seu exemplo. Feliz Dia dos Pais! E pais, sejam pais.

domingo, 5 de outubro de 2014

Para as crianças




De tudo o que foi dito, proposto e prometido pelos candidatos durante a propaganda eleitoral, espero, com a força da minha crença na justiça social, que se cumpra pelo menos a parte que representa avanço nas políticas públicas voltadas à garantia dos direitos das crianças, a partir da atenção pré e perinatal. Meu pedido para hoje, quando estiver diante da urna para votar, é que os vencedores legislem e governem para as crianças, uma vez que a Constituição Federal lhes assegura prioridade, precedência e primazia em razão de sua especial condição de pessoa em desenvolvimento, 
Governem para as crianças. Para garantir às crianças "a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (Lei 8069/90)";
Governem para que todas as crianças tenham registro de nascimento;
Governem pela ampliação da educação integral e profissional prometida por todos os aspirantes ao Poder Executivo;
Governem com o compromisso de construir creches em cada comunidade pobre, onde vivem mães que, para cuidar dos filhos de seus patrões, às vezes deixam suas crianças sozinhas e vulneráveis;
Governem com parcerias, pela garantia de jamais construir um conjunto popular que não tenha pelo menos uma escola, um posto de saúde e uma creche em funcionamento;
Governem pelo compromisso de fortalecer os programas sociais de renda mínima;
Governem para identificar e auxiliar no desenvolvimento do potencial produtivo de pais e mães pobres;  
Governem para dotar as comunidades de praças bem cuidadas e quadras esportivas para que a meninada possa ocupar o tempo livre de maneira saudável e menos vulnerável a promessas de vida fácil [http://agenciaalagoas.al.gov.br/noticias/2014/10/casas-de-direito-do-rio-de-janeiro-e-alagoas-trazem-de-volta-jovens-que-estavam-em-condicoes-precarias-no-rj];
E quando - e se - for necessário, que se promova a socioeducação, não o encarceramento de crianças e adolescentes. Isso não se resolve com a redução da maioridade penal, mas com o fortalecimento de políticas públicas e efetivação de direitos.   
Muito tem sido feito, com significativos avanços, mas é preciso compromisso para seguir fazendo, porque os louros desse esforço não serão vistos de imediato; 

Tais medidas, se observadas, fortalecidas e continuadas com a prioridade que merecem, são a garantia de reversão paulatina da atual curva dos Índices de Desenvolvimento Humano, Social e Econômico. Eu voto por isso - pela infância.

 
   

terça-feira, 7 de maio de 2013

Alagoas amplia enfrentamento à violência sexual



I Semana Alagoana de Enfrentamento à Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes acontece de 13 a 18 de maio

Todos os anos, o dia 18 de maio é dedicado a atividades de alerta e orientação para a prevenção e o enfrentamento do abuso e da violência sexual contra crianças e adolescentes. Este ano, órgãos estatais, entidades assistenciais e instituições reuniram-se para ampliar a programação e o alcance das atividades, convocando a sociedade a participar da I Semana Alagoana de Enfrentamento à Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que começa no dia 13 e será encerrada no sábado, dia 18 de maio.

Cientes da gravidade do problema, que afetou pelo menos 3 mil alagoanos em 2012, segundo dados do Disque 100, a parte da sociedade alagoana engajada na defesa da infância resolveu ampliar a pauta e o período de discussões e conscientização em torno do problema, que na maioria das vezes, está dentro de casa, supostamente “escondido” pela inviolabilidade.

Mas que não se enganem os abusadores ou quem acha que o que se passa na casa do vizinho a ele pertence, inclusive, práticas violentas. A violência sexual é visível, porque afeta não apenas fisicamente, mas transtorna psicologicamente meninas e meninos agredidos, que adquirem transtornos e mudanças de comportamento perceptíveis pelas pessoas próximas, como colegas de escola, professores e vizinhos, mais ainda os pais e irmãos.


Falar ou denunciar o problema não é fácil para as vítimas, considerando que normalmente, o agressor tem ascendência sobre a criança, como é o caso de pais e padrastos. Também há casos em que adultos atribuem à própria vítima a indução ou sedução do agressor, revitimizando-a, em vez de protegê-la.


A ameaça é outro fator inibidor da denúncia desse tipo de violência, sem falar da vergonha que as vítimas e familiares sentem em contar o que sofreram. No ano passado, ficou nacionalmente conhecido o depoimento da apresentadora Xuxa, que só agora sentiu segurança para declarar ter sido vítima de abuso na infância. 


As marcas da violência sexual são visíveis, observáveis, mesmo que não sejam físicas. Segundo o Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca), meninos e meninas vítimas de abuso apresentam alterações de humor, comportamentos agressivos ou regressivos, sonolência, perda de apetite, perda de autoestima, insegurança, comportamento sexual inadequado para a idade, isolamento, fuga, medo de estranhos, de escuro e – muito importante – clara rejeição à presença do agressor. Sem falar em dores, hematomas e machucados, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce.


O amor, o cuidado, o senso de proteção, de responsabilidade e de compromisso com a infância são instrumentos fundamentais para salvar e proteger nossos meninos e nossas meninas.  


Fora da esfera familiar, há muitos – e eficientes – instrumentos de proteção psicossocial, jurídica, médica e humana. O Conselho Tutelar – site com informações nesta página – pode viabilizar o acesso a toda a rede de proteção, que inclui secretarias estaduais e municipais, delegacias, órgãos do Poder Judiciário, polícias, instituições e entidades não governamentais. Mesmo sem sair de casa, é possível denunciar casos de violação através do Disque 100. 


A programação completa pode ser conferida no slide abaixo: 


Programação estadual do dia 18 de maio 1 from Elenilda Oliveira

Para obter contatos para entrevistas, matérias e reportagens: (82) 8833-2461.