quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Alagoas avança 17 posições e deixa para trás o título de campeão nacional de mortalidade infantil





O dia de hoje começou muito feliz, com a notícia de que o Estado de Alagoas está agora no 17º lugar em mortalidade infantil, sendo também o que mais avançou na redução deste indicador. Passei anos repercutindo uma triste notícia: “Alagoas é o campeão nacional em mortalidade infantil”. No início dos anos 2000, quando o quadro começou a ser revertido, passamos a noticiar: “Alagoas foi o estado que mais avançou na redução da mortalidade infantil, mas ainda detém o pior índice.”

Informar, ainda no ano passado, que o Estado havia saído do desconfortável primeiro para o 11º lugar já foi muito animador. Mais bebês nascem e se criam em Alagoas. E hoje de manhã, quando ouvi o representante nacional do Unicef, Gary Stahl, anunciar na TV que Alagoas avançou para a 17ª posição nacional, ou seja, deixou ainda mais para trás a triste realidade de ser o Estado onde mais morriam bebês, foi como abrir a porta para receber um presente muito desejado.


Segundo os números do Unicef, de cada mil bebês nascidos vivos, ainda morrem 20 antes de completar o 1º ano. O índice nacional é de 19 por mil. Mas o governador Teotonio Vilela lembrou, na solenidade em que foi anunciada esta nova realidade da infância alagoana, que estes números são de 2009. Ele afirmou que agora, em 2012, são 15 por mil. Ou seja, o Estado continua avançando na implantação de políticas de atenção à criança.


E quando falo Estado, falo Governo, prefeituras, entidades não governamentais, lideranças comunitárias, pais que cuidam dos filhos, mães que fazem o pré-natal, conselheiros tutelares que fiscalizam como está a atenção à infância nas comunidades que representam, conselheiros escolares atentos à frequência escolar. Ou seja, o poder político cumprindo sua parte e a sociedade civil se apropriando dessa realidade para garantir que o que está bom se perpetue e defender a melhoria dos aspectos que não estão funcionando a contento.


Hoje de manhã, na entrevista à TV Gazeta, o representante nacional do Unicef lembrou que a participação popular é um dos indicadores avaliados para a obtenção do selo Município Aprovado – um Mundo Melhor para o Semiárido, concedido aos municípios que mais avançam na garantia dos direitos constitucionais para a infância e a adolescência.  Ele enfatizou que é o cuidado da comunidade beneficiária desses avanços que vai garantir sua sustentabilidade.


Os indicadores melhoraram, as políticas de atenção materno-infantil e perinatal avançaram, mas ainda não atingiram o patamar ideal. Para que continuem a avançar, sem que haja retroação ou estagnação, todos os parceiros devem manter-se ciosos de suas atribuições e  vigilantes de que essa notícia, que hoje me deixou feliz, seja só a chamada para outras melhores ainda.  


Os resultados dessa conquista, assim como os desafios a superar, estão relatados no livro Avanços e Desafios – A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas, lançado pelo Unicef nesta quinta-feira, 20 de dezembro de 2012.  

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Faça bonito: Disque 100 e denuncie exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes



O Brasil se mobiliza nesta sexta-feira (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes,  em defesa da infância. Em Maceió, a campanha Faça Bonito será coordenada pela Secretaria da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, que estará no Terminal Rodoviário, a partir das 9h, para orientar motoristas, taxistas e o público, em geral, a denunciar situações de violação contra meninos e meninas.

A campaha também vai às escolas, meios de hospedagem, bares e restaurantes  para estimular a sociedade a reagir e denunciar situações de abuso e exploração sexual contra meninos e meninas pelo Disque Direitos Humanos, o Disque 100. 


OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA

Dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República também alertam a sociedade. Conforme informações do Disque Direitos Humanos (Disque 100), a violência sexual, no período de janeiro a abril de 2012, está presente em 22% do total de denúncias registradas e pode ser categorizada como abuso sexual, exploração sexual e/ou outros tipos de violência sexual. Neste mesmo período, 809 municípios utilizaram o Disque 100 para relatar casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. Salvador (BA), Manaus (AM), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) lideram o ranking de denúncias.

Neste mesmo período, o Módulo Criança e Adolescente do Disque 100 recebeu 34.142 denúncias, que representa 71% de aumento em relação ao mesmo período do ano anterior. Dentre os estados com maior incidência de denúncias estão São Paulo (4.644 denúncias), Rio de Janeiro (4.521) e Bahia (3.634).

O Sudeste é a região com o maior número de denúncias, responsável por 36,2% do total de registros do Módulo Criança e Adolescente. Na sequência aparece o Nordeste, com 34,7%; o Sul, com 11,3%; o Centro Oeste, com 9% e, por fim, a região Norte, com 8,8% do total de denúncias registradas no período.

POR QUE 18 de MAIO?

Esta data foi instituída a partir da lei nº 9.970, 17 de maio de 2000. Em 18 de maio de 1973, em Vitória (ES), uma menina de apenas nove anos de idade, chamada Aracelli Cabrera Sanches Crespo, foi vítima de rapto, estupro e acabou sendo assassinada por jovens de classe média alta. O crime, apesar de sua natureza hedionda, até hoje está impune.

A intenção do 18 de Maio é mobilizar, sensibilizar, informar e convocar toda a sociedade a participar da luta em defesa dos direitos sexuais de crianças e adolescentes, tornando-se necessário garantir a crianças e adolescentes o direito ao desenvolvimento de sua sexualidade de forma segura e protegida.

Com informações da Secretaria da Mulher e da Andi [www.andi.org.br].

domingo, 29 de abril de 2012

Educomunicação:meninos e meninas são notícia e fazem a divulgação


http://multiplicadoresdosaberdigital.blogspot.com.br/
                                         Foto:   http://multiplicadoresdosaberdigital.blogspot.com.br/


Jovens participantes de projeto social farão cobertura jornalística educomunicativa da 9ª Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, no dia 11 de maio, em Maceió


O Estado de Alagoas realiza no próximo dia 11 de maio, no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, sua 9ª Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. Este ano, por iniciativa do Conselho Nacional – o Conanda –, meninos e meninas participarão de todas as etapas do processo de construção da conferência nacional, que acontecerá em julho em Brasília, inclusive da cobertura jornalística educomunicativa, que mostrará a conferência do ponto de vista de seus protagonistas.

Nesta preparação, meninos e meninas não serão apenas o tema da pauta, mas farão eles próprios a notícia, a cobertura e a divulgação do evento, com a produção de jornal mural, TV de bolso, fanzine, spots de rádio, exposição e blog informativo.

Para viabilizar essa construção, 20 meninos e meninas do projeto Replicadores na TV II, do município de Campestre, participarão de oficina de planejamento promovida pelo Conanda, no próximo dia 10 de maio. Integrante de projeto apoiado pela Oi Futuro, esse grupo fará e contará a história da Conferência Estadual. O projeto Replicadores na TV II é realizado pela Rádio Comunitária Campestre FM e coordenado pelo radialista Buarque Júnior.

O trabalho conta com a parceria da Fundação Banco do Brasil, Prefeitura de Campestre, Conselhos Municipal e Estadual da Criança e do Adolescente e Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, por meio da Superintendência da Criança.

A oficina educomunicativa promovida pelo Conanda consiste em orientar os adolescentes para a utilização adequada das linguagens de texto, áudio, vídeo e fotografia para a produção do material informativo sobre a conferência. Dos adolescentes participantes da cobertura educomunicativa em cada estado, dois serão selecionados para ir a Brasília fazer a cobertura da conferência nacional.

A cobertura educomunicativa utiliza técnicas e ferramentas do jornalismo para a formação socioeducativa de crianças e adolescentes. Além da iniciação nas técnicas de difusão, os participantes são orientados para a utilização democrática dos meios de comunicação, como instrumentos de promoção dos direitos sociais, educação para a paz e solidariedade.

A prática educomunicativa, fundamentada nos valores humanistas defendidos pelo educador Paulo Freire, promove um modelo colaborativo de construção social. Com isso, meninos e meninas, que são a pauta da conferência, farão também a cobertura jornalística, abordando, em seus programas e entrevistas, os aspectos e discussões do evento, que tem caráter mobilizador.

A Conferência Estadual dos [Direitos da Criança e do Adolescente (DCA)] vai discutir os cinco eixos da conferência nacional: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes; Proteção e defesa dos direitos; Protagonismo e participação de crianças e adolescentes; Controle social da efetivação dos direitos e Gestão da política nacional dos direitos humanos de crianças e adolescentes.

Durante a conferência, também serão realizadas apresentações culturais e oficina de educomunicação. Ao final da conferência, serão eleitos os delegados que participarão da 9ª Conferência Nacional DCA, que acontece em Brasília de 11 a 14 de julho deste ano.

Os participantes da Conferência Estadual DCA são os delegados eleitos durante as conferências municipais, realizadas em 91 cidades alagoanas, inclusive, em Maceió. Para a etapa estadual, são esperados 600 delegados, que vão definir, junto com representantes de entidades não governamentais e instituições públicas, três propostas aprovadas em cada eixo da discussão proposta para serem levadas à Conferência Estadual. 

Em Alagoas, não houve conferências municipais nas cidades de Atalaia, Japaratinga, Murici, Olho D’Água das Flores, Olho D’Água do Casado, Pão de Açúcar, Pariconha, Paripueira, Passo de Camaragibe, Roteiro e São Sebastião. Os demais municípios estão aptos a enviar delegados à Conferência Estadual.

Serviço
A oficina educomunicativa preparatória para a cobertura da 9ª Conferência Estadual DCA será realizada no dia 10 de maio na Associação Rádio Comunitária Campestre FM, localizada na Rua Edésio Acioly Wanderley Filho, nº 21, Centro de Campestre. No dia seguinte, os adolescentes farão a cobertura da conferência em Maceió.

Mais informações e contatos para entrevistas pelos telefones (82) 8805-0484, (82) 8833-2461 e (82) 8883-7564.

domingo, 15 de abril de 2012

Alagoas prepara Conferência da Criança e do Adolescente



 
O Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca) de Alagoas realiza, nos dias 10 e 11 de maio, a etapa estadual da 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que acontecerá de 11 a 14 de julho em Brasília. A conferência estadual será realizada no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Jaraguá, e contará com a participação de representantes de entidades e instituições públicas e não governamentais e de crianças e adolescentes de todo o Estado.

A Conferência Estadual vai discutir os cinco eixos da conferência nacional: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes; Proteção e defesa dos direitos; Protagonismo e participação de crianças e adolescentes; Controle social da efetivação dos direitos e Gestão da política nacional dos direitos humanos de crianças e adolescentes. Também serão realizadas apresentações culturais e oficinas de educomunicação, em que meninos e meninas participarão da cobertura e divulgação da conferência.

Conferência Nacional

A 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente será realizada em Brasília, entre os dias 11 e 14 de julho, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães. Seu objetivo é mobilizar grupos que constituem o sistema de garantia de direitos e a população em geral para implementação e monitoramento, da política e do plano. Esta edição terá como tema: “Mobilizando, Implementando e Monitorando a Política e o Plano Decenal de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios”.

Este ano, a conferência está mais interativa, do ponto de vista da participação das crianças e adolescentes, que atuarão em todas as etapas da construção da conferência nacional. 

Fonte: Conanda [http://www.direitoshumanos.gov.br/conselho/conanda]

quinta-feira, 29 de março de 2012

Precisamos ser ONG?

"Você representa qual ONG?" À pergunta, feita algumas vezes quando divulgo a iniciativa de arrecadar tênis para meninos e meninas atletas que competem descalços, respondo sempre: "Não represento nenhuma ONG, nenhuma instituição". É uma iniciativa pessoal, tomada por uma pessoa que se entristece com a desigualdade e que procura, de algum modo, contribuir para minimizá-la, com os instrumentos disponíveis - a palavra, os contatos, as relações, pessoas solidárias.

Será que precisamos vestir a camisa de uma ONG, para demonstrar que nos indignamos com a ausência de proteção, com a injustiça social, ou para que nossa voz seja ouvida? Acredito na soma das ações individuais bem direcionadas, no olhar que se volta para o outro, na solidariedade sem CNPJ, movida pela boa vontade, pelo desejo de melhorar.

Esta é uma iniciativa individual, que conta com adesões individuais. Somados, esses esforços contribuirão para que um pequeno número de crianças chegue à quadra calçada na próxima competição. Não vai mudar a realidade da infância alagoana, tenho consciência. Mas vai minimizar uma situação específica, localizada, contribuindo para melhorar o desempenho de meninos e meninas que gostam de esporte e que passarão a jogar e a correr de modo mais adequado. Para esses meninos, nosso pequeno gesto fará diferença, não tenho dúvida disso.

Acompanho diariamente o noticiário local e nacional e a mídia, em geral, com especial atenção ao que se refere aos direitos da infância. A violência, a negligência e a exploração, todas faces dos maus-tratos a que está exposta parte significativa dos meninos e meninas são os principais fatores de transgressão das leis de proteção e os principais alimentadores de notícias com as tags "criança" e "adolescente".

Nesse aspecto, esta semana, a mídia local noticiou fatos como o resgate do corpo de um menino de 10 anos que foi encontrado mutilado, dentro de um saco, no município de Teotônio Vilela [http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=267032]. O programa Pajuçara Manhã da última segunda-feira (26) foi pontuado pela enquete: "Você é contra ou a favor da Lei da Palmada?", em que a maioria dos telespectadores que se posicionaram reportaram ser contrários à lei, a maioria por considerar que cabe aos pais - e só a eles - a decisão sobre a melhor maneira de educar seus filhos. Muitos informaram ter sido vítimas de "palmadinhas", na infância, sem que isso lhes tenha causado prejuízos. A lei é controversa e segue em tramitação no Congresso. Sou a favor da aprovação, em sua totalidade, por acreditar que a palmada é um mecanismo violento, desigual, deseducativo e que está nas bases da violência doméstica. 

Ontem, o Brasil inteiro ficou chocado com a notícia de que, em Aparecida de Goiânia, um menino de 1 ano morreu asfixiado, por ter sido esquecido, durante horas, dentro de um carro fechado. O menino morreu dentro da garagem de casa e a mãe foi acusada por vizinhos de ter cometido outras agressões contra a criança - há testemunhas de tentativa de afogamento [http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/03/mae-ja-tentou-afogar-bebe-que-morreu-em-carro-dizem-testemunhas-policia.html] . Será indiciada por homicídio doloso, porque, para o Ministério Público, houve a intenção de matar.

Na nova novela das 21h da TV Globo, uma menininha se destaca entre dezenas de outras crianças exploradas como catadores em um lixão, onde trabalham em troca de comida e sofrem violência física quando não atingem determinada meta. A personagem, vítima de maus-tratos domésticos e abandonada no lixão após a morte do pai, choca os telespectadores do horário nobre com o drama histórico da exploração do trabalho infantil. O mesmo drama observado diariamente nas ruas de Maceió, nos semáforos onde meninos lavam para-brisas e fazem malabarismos em troca de uns trocados que vão parar nas mãos de gente violenta e sem princípios. 

Precisamos assistir à novela, para nos indignar com o drama real do trabalho infantil? Precisamos ser ONG, para ver o desconforto das vidas que passam ao lado da gente? Precisamos ser ONG para denunciar o vizinho que maltrata seus filhos [Disque 100]? Precisamos ser ONG para denunciar a exploração, a violência e a negligência doméstica? Precisamos ser ONG, para doar um par de tênis usado para crianças que jogam descalças? Não precisamos ser ONG para garantir às crianças do nosso entorno o direito de decidir quando correr descalça.

Com todo o respeito que tenho pelo trabalho de muitas ONGs sérias e respeitáveis, algumas das quais com links nesse blog, na seção Vale Visita, considero que a  iniciativa individual não precisa de logomarca para validação.

Para se posicionar, acesse: http://www.ocurumin.blogspot.com.br/2012/03/crianca-descalca-nos-incomoda-para-onde.html . Ou ligue: (82) 8805-0484 / 9104-7735.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Quem se importa?



Na última sexta-feira (16), recebi seis pares de tênis usados, doados por estudantes da turma que participou do torneio de basquete com as meninas descalças. Ainda hoje, entrarei em contato com as pessoas que se manifestaram em defesa da ação para saber quando e onde poderei receber as respectivas doações.Também enviei e-mails para empresas fabricantes e revendedoras de material esportivo, mas não recebi nenhum retorno.

Para reforçar: quem quiser fazer a doação - de tênis novos ou usados - deve ligar para um dos telefones divulgados no banner do lado esquerdo do blog ou postar comentário.A adesão por meio de divulgação nas redes sociais ou pela postagem do cartaz em murais também é bem-vinda.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Você quer ajudar?




Atendendo ao chamamento da campanha de doação de tênis para pequenas atletas que jogam descalças, encampada pelo blog, o designer gráfico Ronaldo Pontes produziu e doou a arte que está postada do lado esdquerdo do blog e no Facebook, com os contatos para quem se dispuser a ajudar. 

A campanha também foi adotada pela jornalista Luiza Barreiros, que a levou ao condomínio onde mora e disponibilizou um telefone para contato.

Quem tiver tênis para doar, pode mandar e-mail [elenildaelen@gmail.com], ligar para os números divulgados [8805-0484 (meu) e 9104-7735 (Luiza)] ou postar comentário aqui no blog.

Crianças descalças participam de competição em Maceió
Além das meninas que competiram descalças no torneio de basquete que deu início a esta ação, outros pequenos atletas competem descalços ou com calçados inadequados em Alagoas, como mostra a foto divulgada pela jornalista Layra Santa Rosa, assessora  da ONG O Consolador, que atende cerca de mil crianças, distribuídas em cinco municípios alagoanos. No último dia 10, crianças e adolescentes que participaram da 1ª etapa do Circuito de Corridas Alto Asstral, promovido pela Federação Alagoana de Triathlon (Faltri), em Maceió, também correram descalços no asfalto da Pajuçara.

"As crianças, que culpa terão?"


Foto de divulgação do documentário Aquarelas

Nos últimos dias, notícias sobre violação de direitos da infância e mortes de crianças ecoaram na imprensa local e internacional, fazendo-nos silenciar de dor, tristeza e vergonha, questionando-nos sobre as razões da barbárie que transtorna o ser humano.

O soldado americano que  matou nove crianças afegãs dentro de suas casas, junto com seus pais; o amigo da família que confessou ter estuprado e matado uma menina de 5 anos, no município alagoano de Cajueiro, e o taxista preso em Maceió pela acusação de ter assediado e estuprado uma menina de 10 anos (*) calam a compreensão.

No inquieto silêncio que hoje me move, diante de tais notícias, cito Ernesto Sábato, autor de Homens e Engrenagens, lembrado por Clóvis Rossi, em artigo publicado na Folha de São Paulo desta terça-feira (13): "Nós, adultos, de algo sempre somos culpados. Mas as crianças, que culpa podem ter as crianças?".

quarta-feira, 7 de março de 2012

Criança descalça comove? Para onde vai o tênis que trocamos pelo modelo novo?



Fiz minha incursão na blogosfera em 2010, quando, na primeira viagem internacional, não resisti, mesmo de férias, a registrar tudo o que vi e vivi daquela experiência. Na sequência, e já com saudade dos artigos que publiquei em O Jornal, entre 2004 e 2008, a maioria sobre direitos da criança, decidi que faria um blog sobre o mesmo assunto, pelo qual tenho especial afeição. Assim nasceu este Curumins, que se configuraria, pela proposição, como objeto de estudo de pós-graduação. Mas o blog não pegou, embora o tenha divulgado entre minha rede de contatos, que inclui fontes, formadores de opinião e militantes dos direitos da infância. A situação “minou” a pretensão mobilizadora e – confesso – provocou desmotivação.

Poucos aderiram, muito poucos comentaram, ninguém colaborou. Ou seja, o objeto da dissertação não vingou. Caiu, assim, o objetivo geral da iniciativa, mas não os específicos, porque a discussão proposta está mantida. Hoje o blog retoma sua trilha silenciosa, que tentarei manter com regularidade.

Curiosamente, moveu-me a esta trilha a lembrança de outra iniciativa que não pegou. Em abril de 2010, um mês antes da viagem que deu origem ao blog www.aalemanhaquevi.blogspot.com, levei minha filha pequena para sua primeira competição no Pavilhão do Basquete Comendador Tércio Wanderley, em Maceió. Do outro lado da quadra, deparei-me com atletas – de 9 e 10 anos – descalças, que assim se dispunham a jogar porque não tinham tênis.

Chocada, juntei-me ao coro de outras mães que questionavam a desigualdade de condições, mas o jogo foi mantido e ao final, voltamos para casa – eu e minha filha – carregando uma medalha envergonhada, conquistada em cima do desconforto das pequenas guerreiras descalças.

No primeiro dia de aulas após o episódio, tentamos – eu e algumas mães das meninas calçadas – arrecadar tênis novos e/ou usados para as atletas descalças com a comunidade escolar. Publiquei um artigo [reproduzido abaixo] sobre o episódio, na tentativa de mobilizar doadores, mas não obtivemos nenhum retorno. Nenhum par de tênis foi recolhido, nem mesmo os que eu prometera, porque – admito -não tive coragem de seguir sozinha.

Viajei e na volta das férias, encontrei o Brasil mobilizado para ajudar a população de Alagoas e Pernambuco a reconstruir suas vidas depois das enchentes que destruíram cidades inteiras naquele junho de 2010. O interesse em ajudar o time de meninas descalças havia sido superado, com justiça, pela carência absoluta das vítimas das enchentes.

O tempo passou e eu própria, antes comovida com a visão das atletas descalças, também me esqueci de tentar ajudá-las. Até a semana passada, quando uma menina americana de 14 anos potencializou meu desconforto pela falta de iniciativa, pela desistência do que poderia ter sido uma atitude capaz de minimizar a vergonha de ter permitido que minha filha disputasse um jogo com adversárias de pés descalços.

Ao acessar o portal G1 [ www.g1.globo.com ], no último dia 1º, encantaram-me os personagens da série de reportagens Transformadores – pessoas que mudaram o mundo, especialmente o perfil de Sara Kebede  [ http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/03/tenis-doados-por-garota-incentivam-etiopia-como-potencia-do-atletismo.html ], que aos 9 anos, após visitar a Etiópia, país de origem de seu pai, indignou-se ao ver que grande parte dos atletas competia descalça. Incomodada com aquela realidade, tão distante da sua, decidiu contribuir para superá-la. E aos 14 anos, fez a primeira entrega de 250 pares de tênis, de um total de 2.000 pares arrecadados com gente que assume a responsabilidade de cuidar do outro.  

Resolvi postar esse texto, esperando que, mais do que a autodeclaração de iniciativas fracassadas, esta possa ser também a retomada de um ato que, frustrado na primeira tentativa, pode ser reativado, com resultados significativos e declarações de amor ao outro, personificado em crianças que, mesmo alijadas de direitos fundamentais, sonham em conquistar seu lugar na quadra, no pódio, na escola, na sociedade.

Quem sabe, alguns dos 19 seguidores deste Curumins, dos meus 471 amigos do Facebook, dos 121 seguidos e 137 seguidores do Twitter, além das centenas de integrantes do mailing list não se incomodam?

Segue artigo publicado na edição do dia 2 de maio de 2010 no semanário A Semana

Em campos desiguais

“Os abismos entre a escola pública e a escola particular não são só estatísticas, são o mundo real de milhões de crianças e adolescentes”

Elen Oliveira
Jornalista

Na semana passada, assisti, no Pavilhão de Basquete do Jaraguá Tênis Clube, ao Campeonato de Minibasquete promovido pela Federação de Basketball de Alagoas. Na quadra, disputavam medalhas atletas de 9 e 10 anos. Ao chegar, louvei o grande exemplo do esporte mirim, em que todos são iguais na busca por um objetivo comum. Na quadra havia menininhas magrelas, cheinhas, umas baixinhas e outras consideradas altas para a idade. Vi o esporte preparando para a vida, mostrando que há espaço para todos, fortalecendo as individualidades como aspectos complementares à convivência.

Um pouco antes do início do jogo, a professora/treinadora chamou os pais para informar que as meninas jogariam com uma equipe de uma escola municipal, comunicando, em seguida, que as meninas jogariam sem tênis. Diante de mães e pais chocados, a professora justificou: “o professor me informou que elas estão acostumadas, pois também treinam descalças.” 

A informação transtornou o ambiente, inicialmente festivo, num misto de constrangimento e vergonha. De um modo muito direto, a visão de atletas mirins, jogando de pés descalços contra atletas mirins bem calçadas, correndo e pulando sobre tênis com amortecimento de impacto, nos deu um flash da desigualdade que ignoramos, no nosso cotidiano de janelas cerradas, ocupados na busca por oferecer sempre o melhor para nossos filhos, de como é carente a infância de Alagoas e do Brasil.

Aquelas pequenas atletas, jogando descalças, numa quadra de basquete profissional, obrigaram-nos, pais e mães das meninas calçadas, que ali estávamos para aplaudir os feitos dos nossos filhos, a olhar para o outro lado da quadra. Obrigaram-nos, pelo menos naquele momento, a encarar a luta desigual de meninos e meninas que diariamente, desde muito cedo, são expostos às dificuldades da vida, tornando-se parte do que há de mais desumano na construção da humanidade.

As meninas de Jaraguá, jogando de pés descalços, deram-nos uma lição de grandeza imensurável. Silenciosamente, sem pedir nada a ninguém, mobilizaram os pais das meninas calçadas a olhar no entorno, a ver que os abismos entre a escola pública e a escola particular não são só estatísticas, são o mundo real de milhões de crianças e adolescentes. São meninos e meninas que vão à escola com fome, que vão para a quadra descalços e que, mesmo diante de toda a adversidade, olham a vida com esperança. Esses abismos, transpostos pelo esforço de pais e mães que tomam um ônibus, no sábado de manhã, para levar suas meninas descalças a disputar um campeonato, em condições desiguais, não serão resolvidos com os tênis que as mães das meninas calçadas, comovidas pela desigualdade, vamos dar [prometemos, mas não demos] às meninas que jogaram descalças. Mas nos fazem pensar.

Esses abismos, expostos minimamente ali na quadra do Pavilhão do Basquete Comendador Tércio Wanderley, dão uma mostra ínfima do quanto falta, ao poder público e a cada um de nós, cidadãos, em capacidade para definir o que é prioritário.

O professor de educação física que levou as meninas, mesmo descalças, a mostrar seu potencial para enfrentar a vida, faz a parte dele. Os pais dessas meninas, que vibravam a cada cesta convertida, incentivando-as a ir em frente, podem encarar o mundo como cidadãos. Quanto a nós, que nos comovemos, ainda temos muito que aprender em termos de humanidade e cidadania. Nós poderíamos ter pedido a nossas filhas que, para garantir uma disputa igual, elas também jogassem descalças, como sugeriu depois uma amiga, quando lhe contei o que vi.

Nossas meninas, que ganharam os dois jogos, também crescerão sem olhar para o lado, se não mostrarmos a elas que uma pisada no pé, em condições tão desiguais, é muito mais dolorida. Elas precisam ser orientadas a enxergar que enquanto escolhem o tênis com que vão jogar, as meninas da escola pública nem sempre têm o que calçar.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012