domingo, 10 de abril de 2011

Um olhar humano sobre a tragédia




A tragédia sempre teve espaço garantido no jornalismo diário. Nos sites de informação que têm a seção "Mais Lidas", escândalos sexuais e crimes de grande repercussão têm lugar certo, porque alimentam a curiosidade de um público diferenciado. Um fato como a tragédia de Realengo domina o noticiário, não só pela tragédia em si, mas pela dimensão, pelo inusitado do acontecimento e, claro, pelo cenário e as vítimas envolvidas, todas adolescentes, executadas dentro da escola, um dos lugares de maior segurança presumida para uma criança estar.

A execução de crianças na escola, um tipo de crime já visto em outras partes do mundo, enlutou o Brasil, que, apesar de figurar em estatísticas de desigualdade humana e social, jamais havia enterrado suas crianças em circunstâncias de tamanha insanidade. O dia 7 de abril de 2011 encheu o Brasil de dor e ganhou destaque no noticiário do Brasil e do mundo.

Grande parte dos jornais noticiou o fato objetivo, a partir da informação de que um homem armado entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo (RJ), onde matou 10 meninas e dois meninos e deixou mais 10 meninas e três  meninos feridos.

Sem fugir ou mascarar os fatos, no entanto, alguns jornais iluminaram o jornalismo nacional num dia marcado pelo luto. A humanidade com que a tragédia foi abordada não minimiza sua intensidade, mas mostra muito mais do que sangue e morte. As manchetes do Diário de Pernambuco (PE), de O Povo (CE) e de Pioneiro, de Caxias do Sul (RS) vão além dos fatos para uma análise dos aspectos humanos que cercam a tragédia, como traduzir em poucos caracteres a dor que transpassou os 190 milhões de brasileiros, a preocupação com o modo de contar às crianças como é possível que a violência possa ferir de morte um país continental e a delicadeza de deixar marcado que no dia 7 de abril de 2011, o Brasil se vestiu de luto.

Mesmo não sendo sediados no Rio de Janeiro, o palco da tragédia, O Diário de Pernambuco, O Povo e Pioneiro saíram do lugar comum, da mera reprodução das notícias veiculadas por agências de informação e optaram por fazer jornalismo de qualidade, sobretudo O Povo, que procurou ouvir pais e especialistas locais para repercutir o assunto, trazendo para dentro das casas, onde a TV reprisava desde o dia anterior imagens de crianças correndo da  morte, propostas de abordagem do fato com as crianças e as ações do município de Fortaleza e do estado do Ceará para garantir a segurança nas escolas.


O Diário de Pernambuco e O Pioneiro mostraram a dor e o luto provocados pelo crime e O Povo apresentou curativos para os feridos. Jornalismo responsável, focado no ser humano.

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