sexta-feira, 8 de abril de 2011

Crianças e adolescentes na mídia - É sempre notícia ruim?


 

Parece provocação? E é. Quem, nos últimos dias, viu, na mídia [jornais impressos, jornalismo televisivo, radiojornalismo ou até sites de informação], matérias sobre boas práticas de atendimento, orientação e acolhimento, pautadas nas garantias legais de proteção à criança e ao adolescente?

Tomando como espaço temporal esta semana, que começou no último domingo (3), só vi matérias e reportagens que denunciam descaso e violência. Nas duas situações, ausência de proteção.

No domingo, a revista semanal da Globo, o Fantástico, chamou a atenção para a fragilidade do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas e o assassinato das irmãs Juliana, de 16 anos e Josely, de 16 [links abaixo].

Na quarta-feira (6), dia em que assisti à primeira aula do curso, em que o professor Sinvaldo Pereira abordou o tema Novas Perspectivas Teóricas em Comunicação, com foco nas mídias sociais, a notícia mais lida e mais comentada do site local de informação [www.tudonahora.com.br] mostra um menino de 4 anos todo machucado por ter sido agredido na escola.   

Na quinta (7), dia em que o Brasil parou diante do massacre de 12 crianças em uma escola pública do Rio de Janeiro, assisti à aula em que o professor Jeder Janotti abordou a temática Pesquisa em Comunicação, em que defendi a proposta de criação deste espaço. 

O fim deste trabalho é avaliar as novas mídias como instrumento de mobilização social, tendo como base o espaço ocupado pela criança e o adolescente no noticiário diário, seja local, nacional ou internacional. Também pretendo provocar a discussão e propor soluções, mediante provocação aos mecanismos legais de proteção.

Hoje as notícias não são boas. Tanto a criança agredida na escola de Maceió quanto as irmãs mortas em São Paulo e as que foram mortas ou ficaram feridas na escola do Rio de Janeiro [textos abaixo] figuram no noticiário como vítimas. 

No primeiro caso, um menino de 4 anos ficou exposto à agressão dos coleguinhas, sem que houvesse nenhuma intervenção dos responsáveis pela escola a tempo de evitar que fosse mordido e arranhado em diferentes partes do corpo. No site onde a matéria fou veiculada, até a data da postagem, havia 154 comentário, alguns criticando os pais, outros criticando a escola e alguns até achando exagero que o fato tenha virado notícia. Mas o que mais me chamou a atenção, nos comentários, foi que ninguém tenha se apresentado como representantes de conselho de Direitos ou Tutelar da região em que o fato ocorreu ou de alguma instância administrativa de direitos da criança. Sinto falta de vozes institucionais em espaços de discussão sobre direitos da criança, como se este fosse um grupo com pouca representatividade.

As meninas, mortas em circunstâncias desconhecidas quando voltavam da escola, reforça uma característica cada vez mais comum nos espaços de convivência social no Brasil: a desconfiança generalizada, o medo do outro e o isolamento das pessoas em grupos reduzidos por medo da violência, que pode surgir de qualquer lugar, inclusive de pessoas da convivência das vítimas, como neste caso.

Sobre o funcionamento do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, a matéria aborda a falta de estrutura de um serviço fundamental à divulgação e localizaçao de pesssoas.

Na tragédia que manchou de sangue a escola de Realengo (RJ), de dimensões difíceis de mensurar, um homem entrou na escola portando duas armas e munição excedente, aproveitando-se da confiança conquistada por ter estudado ali. Incompreensível e inédita, nas escolas do Brasil, a tragédia que se seguiu afronta, inclusive, nossa capacidade de argumentos, faltam palavras para questionar onde falhou a garantia de proteção embutida no contrato social que firmam os pais quando envam os filhos para a escola. 

No entanto, embora nos cale o questionamento, a tragédia chama a atenção para coisas que parecem menores, como o tratamento desrespitoso entre colegas na escola, muitas vezes relatado e nem sempre devidamente tratado com o devido cuidado. O fenômeno conhecido como Bullyng, que voltaremos a abordar com o aval de especialistas, pode influenciar na construção de transtornos psíquicos graves, porque as vítimas, nem sempre ouvidas, passam a alimentar forte desejo de vingança pelos agressores responsáveis pela tortura psicológica de dimensões nem sempre calculadas por quem a pratica. 

O vídeo de um menino australiano que reage com violência à provocação de um colega menor do que ele tornou-se fenômeno de acessos na internet no mês de março e o menino que reagiu tornou-se celebridade, com participação em programas de entrevista de grande audiência em seu país. O curioso é que a maioria das pessoas que se posiciona sobre o assunto, mesmo parte dos que se posicionam contra qualquer ato violento, colocam-se ao lado do menino que reagiu à provocação, embora o outro tenha ficado visivelmente machucado. A maioria das pessoas tratam o caso como uma catarse, pondo-se, inclusive, no lugar do menino que é provocado. 

Repetitiva, a tortura psicológica torna-se tão agressiva à pessoa que a recebe, que é comum explodir em respostas inesperadas, como atos de violência. As primeiras evidências sobre a construçao do perfil psicológico do atirador de Realengo apontam para comportamento introspectivo e há indícios de que teria sofrido bullyng na escola. Claro que não há elementos para associar tais suposições ao ato que resultou no assassinato de 12 meninos e meninas. Mas nós - pais, professores, cuidadores, babás, familiares e pessoas do ciclo mais próximo de nossas crianças - temos que ouvi-las com mais atenção. 

A família da criança que chegou mordida em casa fez bem em procurar saber as causas da agressão e até em tornar público que a instituição à qual confiara seu filho cometeu falhas em sua proteção. Crianças crescem e até terem consolidado o conhecimento sobre as as regras de convivência e respeito ao outro, precisam de orientação firme e vigilância constante. Por pequenas que sejam, têm que saber que seus atos têm consequências e que a ninguém é dado o direito de machucar o outro. Situações aprentemente autorresolutivas, associadas ao afrouxamento da vigilância, podem, pela repetição, alimentar a intolerância,  desencadeando reações inesperadas, às vezes impossíveis de contornar.         

Seguem links sobre as notícias comentadas:

Menino agredido em escola de Maceió

http://tudonahora.uol.com.br/noticia/maceio/2011/04/06/136413/crianca-de-quatro-anos-e-agredida-em-escola-infantil-no-prado

Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas

http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1657111-15605,00-CADASTRO+NACIONAL+DE+DESAPARECIDOS+NAO+FUNCIONA.html#

Irmãs assassinadas em São Paulo

http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1657120-15605,00-CAMERA+REGISTRA+ULTIMAS+IMAGENS+DE+IRMAS+ASSASSINADAS.html#

Tragédia em escola do Rio

http://www.addthis.com/bookmark.php?v=250&username=ebc2000


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